quinta-feira, 29 de maio de 2008

Artigo sobre a evolução da escultura até a Escultura Contemporânea

Este artigo é muito bacana. Explica de uma forma interessante o movimento da escultura através das décadas. Sua metamorfose até chegar na instalação.
Coloquei o artigo como um comentário. Está no item abaixo: comentários

2 comentários:

Fernando Cardoso disse...

Artigo sobre a evolução da escultura até a Escultura Contemporânea


A afirmação da escultura

Em conversa exclusiva com a Revista E, Agnaldo Farias, professor de história da arte na USP e curador da representação brasileira da XXV Bienal de Arte de São Paulo, falou sobre os diversos aspectos da produção escultórica contemporânea

A escultura sofreu modificações radicais ao longo do século até chegar à noção de instalação, na qual, em vez de haver um objeto no espaço, há algo que eventualmente pode até se confundir com o próprio espaço.É interessante partir da noção mais clássica, a de Rodin (Auguste Rodin, 1840-1917). Entre os aspectos interessantes da obra dele está o fato de que ele é o ápice e ao mesmo tempo o começo do declínio de uma certa noção de escultura - a escultura como monumento. E, como monumento, ela "monumentaliza" figuras históricas, grandes passagens que merecem ser cultuadas, heróis ou mesmo figuras mitológicas. Em um momento seguinte, surge uma figura como o Brancusi (Constantin Brancusi, 1876-1957), que busca tematizar a própria base da escultura. O pedestal da escultura, na medida em que é um corpo, um objeto tridimensional, também é escultura. Ao pensar isso, Brancusi "tira" a escultura do pedestal, ou o pedestal sobe até a escultura. Essa ação se dá de maneira recíproca, face a face, lado a lado. Há, portanto, uma completa alteração do estatuto da escultura. Também curioso é que ele passa a usar materiais polidos. Faz com que as peças sejam reflexivas, que funcionem quase como um espelho. Nesse momento, a escultura não divide mais o espaço, ela o reflete. O espaço está nela, na superfície da escultura. Outro passo importante dentro dessa discussão é dado pelo artista russo Tatlin (Vladimir Tatlin, 1885-1953). O Tatlin parte para uma escultura que não se localiza mais no centro do espaço. Ela é projetada para a parede. Tatlin faz peças que são de canto, relevos de canto, e ele faz isso influenciado pelos relevos que Picasso fez em sua fase cubista. Além disso, surgem cabos de aço que atravessam o espaço de uma parede a outra. Aí, nem bem é pintura, nem bem é escultura. Não é nem uma coisa nem outra. É um objeto híbrido. Nesse momento, a temática deixa de ser figurativa. Em Rodin você tem pessoas. Em Brancusi, embora ele vá abstraindo, o trabalho ainda é figurativo. Em Tatlin, não. O que ele tematiza são as forças, a energia, a tensão, o peso, a textura. A obra é auto-referente. O material fala de si, não fala de nada externo a ele. Outra passagem interessante é o Calder (Alexander Calder, 1898-1976), que é encafifado com o fato de que a escultura sintetiza a gravidade. Mesmo que se tirasse o pedestal, ela estava no chão. Ele criou então os móbiles, que são esculturas suspensas que ficam perpetuamente se movimentando. É um trabalho de estrutura muito interessante, no qual as forças vão sendo dirimidas. É oscilante, frágil como os galhos ou as folhas de uma árvore que se alteram com a menor ação do vento. Esse é um passo bastante interessante, pois Calder de fato suprime a gravidade, suprime o peso, a base. A escultura continua sujeita à gravidade, mas de uma outra maneira. Outro artista importante é Alberto Giacometti (1901-1966). O homem é o grande tema de seu trabalho - o homem moderno, na iminência da guerra, ou depois da Segunda Guerra Mundial. Ele faz esculturas verticais, de um homem magro, esquálido, longelíneo, feito com pouquíssima matéria. São muito frágeis as esculturas que ele constrói. Chega um momento em que a escultura não se suporta, quase que se autodestrói. Ela expressa a visão de homem que o artista tem, como se fosse difícil a sua sobrevivência. No entanto, mantém a verticalidade de homem. É a tentativa de estar de pé não obstante todas as intempéries, as dificuldades. É muito forte, muito potente, o trabalho do Giacometti.Em um outro passo bem drástico, chega-se a uma visão muito mais contemporânea de escultura. Trata-se de Richard Serra (1939-). Esse artista americano passa a pensar a escultura não mais necessariamente como objeto, mas como atitude, como ação. Em meados dos anos 60, ele define a escultura como sendo dobrar, amassar, estirar - a escultura como uma ação de formalização do homem, que trabalha, opera sobre o mundo, sobre a matéria que o mundo oferece. E aí, pensando numa escultura que seja o resultado desse processo, temos peças que são, por exemplo, chumbo jogado na parede. Ao olhar a peça, percebe-se a ação envolvida no seu resultado, remonta-se o processo. Preocupado em deixar isso mais explícito, em buscar novas soluções para o mesmo tema, ele vai trabalhar com peças de apoio, como grandes folhas de chumbo e peças de metal escoradas umas nas outras. Há uma relação tensa entre as peças, um evidenciamento de tensões, de forças. Era para isso que ele estava querendo chamar a atenção. Por fim, há o trabalho de dois artistas brasileiros. O primeiro é o Waltercio Caldas (1946-), que é um mestre do silêncio e do vazio. É uma escultura quase invisível. Ele trabalha muito freqüentemente com material polido, cromado, à maneira do Brancusi. Mas ele também trabalha com fios de náilon, com vazios, com espelhos, com vidros. E quando se olha para a peça, às vezes nem sequer a vemos. É interessante uma escultura que trabalha no limite do corpo, no limite da "fisicalidade". Mais um pouco e ela não mais existe.Um outro raciocínio muito curioso é o do Carlos Fajardo (1941-). No caso, trata-se de uma exposição que ele fez, no final dos anos 80, em uma grande sala cúbica projetada pelo Ruy Ohtake. Ele trabalhou com tapumes e tijolos. Foi criando uma série de situações em que, por assim dizer, foi tensionando o espaço, obrigando o espectador a fazer uma série de gestos diferentes, quase uma coreografia. É toda uma dança que se realiza com o próprio corpo.Uma característica geral da escultura contemporânea é a variedade. Quando pensamos na arte moderna, por exemplo, pensamos em movimentos, em tendências. Podem-se enxergar vários artistas que são mais ou menos semelhantes. A grande característica da arte contemporânea é que, na verdade, não há um denominador comum, ela é multifacetada. Sua característica mais marcante é a heterogeneidade. Você tem uma infinidade de modos de se pensar o espaço, de se pensar a escultura. O conceito foi tão testado, tão expandido, que arrebentou. E entre as diversas modalidades que surgiram desse estilhaçamento nasce o conceito de instalação. Já não é uma peça que vemos de fora, como a escultura tradicional. A instalação é uma escultura em que se entra, que envolve vários sentidos: olfato, visão, tato. É uma sensação de sinestesia. Agnaldo Farias ministrou a palestra "Esculpindo o Espaço" dentro da programação do evento O Espaço na Arte Contemporânea, do Sesc Ipiranga.

Anônimo disse...

Oi interessante este blog está muito posicionado.........bom estilo:)
Adorei faz mais posts deste modo !